O António na sua versão a abrir e mais rockeira. Grandes guitarradas!
Se não estou em erro, esta foi mesmo a primeira música que António Variações tocou na TV, a convite do grande e incontornável Júlio Isidro, que o levou a ele e a toda gente ao «Passeio dos Alegres». Este vídeo em tempos existiu no youtube, e era digno de se ver. No ínicio dos anos 80 na tv portuguesa aparece um tipo com uma barba enorme e todo de amarelo preto em xadrez a abanar-se todo como uma ave-rara. Era simplesmente o António, António Variações. Tenho um profundo respeito por este artista. A haver uma Música Popular Portuguesa, qual pimba qual quê, António Variações seria o rei. Era o génio à solta. Sobre si mesmo disse:
«Dá-me a ideia que nasci demasiado cedo»
Para quem quiser conhecer mais um pouco da sua história, aqui fica:
Quando estudava em Lisboa tinha por hábito ir à Fnac ouvir música. Geralmente ficava-me pela parte do rock alternativo, mas depois comecei timidamente a aventurar-me por outras sonoridades, que para mim ainda eram mais alternativas; comecei a entrar na zona do jazz e da música clássica. Não dei muita continuidade à coisa, mas ainda me lembro, como se fosse hoje, do dia em que coloquei os auscultadores de um senhor chamado Wim Mertens. Era um final de tarde de Inverno chuvoso e lá fora, já de noite, pela janela que ficava em frente, via-se a chuva e as luzes da Baixa pombalina. Carreguei no play, e tive um dos momentos mais raros e poderosos que vivi. É como se começasse a levitar, como se tivesse sido agraciado. Foi tão intenso que ainda me lembro, embora a experiência seja
irrepetível e não recorde senão o seu efeito e não a vivência in loco. Obviamente, que comprei o cd. Depois andei a vaguear por Lisboa muitas e muitas vezes com o Wim Mertens nos ouvidos e acreditem que pode mudar a percepão de como olhamos e vemos as coisas. A realidade nunca mais foi a mesma. Pelo menos, para mim. Aqui fica um videoclip da música que data de 1982, precisamente o ano em que nasci.
Às vezes penso que o nosso cérebro tem uma potencialidade enorme, mas por muitas e variadas razões, algumas partes dele estão adormecidas e nunca foram acordadas. A música pode ter esse efeito "despertador" e de desbloqueamento de canais do cérebro, que até então jaziam num sono profundo. É como se gánhassemos mais sentidos. É como provar um novo prato e haver ali qualquer coisa que ainda não se tinha saboreado e nos fascinou.
E agora pergunto: o que faz com que o nosso cérebro goste de uma música e não de outra ? porque prefere x em detrimento de y ? obviamente que falo, apenas e só, em termos sonoros e não das letras das canções, embora até seja possível prolongar isto até as vozes dos intérpretes, mas não as letras que cada um interpreta e dá o sentido que quer. Dito de outra forma, porque é que o som de Wim Mertens me «afecta» (no sentido de afeição, de afectividade) o cérebro? É como se se activasse todos os canais entre si que ligam o cérebro (é um exagero, mas reforça a ideia que quero transmitir). Que processo é este que é desencadeado? As sensações são prazenteiras, e isso é o mais importante. Mas que necessidade é esta de haver sempre um «mas»? Bem já me perdi.
Como hoje comprei o DVD do CONTROL , vou finalmente colocar algo dos Joy Division, que já tardava. O filme foi realizado por Anton Corbijn, o mesmo que depois da morte de Ian Curtis realizou e lhe dedicou este videoclip:
O Amaral foi comigo ver o filme, e terminado o filme era ver nós os dois a andar pela Avenida de Roma sem dizer nada, completamente absortos e abananados com o que tínhamos visto. Mas mais tarde, falarei do filme.