THE BELLY OF AN ARCHITECT
Quando estudava em Lisboa tinha por hábito ir à Fnac ouvir música. Geralmente ficava-me pela parte do rock alternativo, mas depois comecei timidamente a aventurar-me por outras sonoridades, que para mim ainda eram mais alternativas; comecei a entrar na zona do jazz e da música clássica. Não dei muita continuidade à coisa, mas ainda me lembro, como se fosse hoje, do dia em que coloquei os auscultadores de um senhor chamado Wim Mertens. Era um final de tarde de Inverno chuvoso e lá fora, já de noite, pela janela que ficava em frente, via-se a chuva e as luzes da Baixa pombalina. Carreguei no play, e tive um dos momentos mais raros e poderosos que vivi. É como se começasse a levitar, como se tivesse sido agraciado. Foi tão intenso que ainda me lembro, embora a experiência seja
Às vezes penso que o nosso cérebro tem uma potencialidade enorme, mas por muitas e variadas razões, algumas partes dele estão adormecidas e nunca foram acordadas. A música pode ter esse efeito "despertador" e de desbloqueamento de canais do cérebro, que até então jaziam num sono profundo. É como se gánhassemos mais sentidos. É como provar um novo prato e haver ali qualquer coisa que ainda não se tinha saboreado e nos fascinou.
E agora pergunto: o que faz com que o nosso cérebro goste de uma música e não de outra ? porque prefere x em detrimento de y ? obviamente que falo, apenas e só, em termos sonoros e não das letras das canções, embora até seja possível prolongar isto até as vozes dos intérpretes, mas não as letras que cada um interpreta e dá o sentido que quer. Dito de outra forma, porque é que o som de Wim Mertens me «afecta» (no sentido de afeição, de afectividade) o cérebro? É como se se activasse todos os canais entre si que ligam o cérebro (é um exagero, mas reforça a ideia que quero transmitir). Que processo é este que é desencadeado? As sensações são prazenteiras, e isso é o mais importante. Mas que necessidade é esta de haver sempre um «mas»? Bem já me perdi.