THE WALL
Na minha primeira semana na escola a rádio da escola tocava isto:
Não pude deixar de dar um sorriso. Como dizia o outro «ainda ontem estava lá e agora já estou cá»....A educação foi sempre o grande projecto da humanidade, o grande desígnio social dos povos (uns mais que outros em boa verdade) mas vive numa permanente tensão entre quem ensina e quem aprende numa visão clássica do sistema ( aluno-professor, o que aprende e o que ensina, o que fala e o que cala ). Nunca partilhei desta visão ultrapassada e reaccionária, mas como se acaba com esta tensão que perdura? A humanidade tenta preservar a sua história cultural e científica, em última análise, trata-se de preservar a própria humanidade. Pretende ensinar conhecimentos que a todo momento são postos em causa a uma velocidade estonteante, mas que sem eles também não é possível compreender essa mudança. Em forma de simplificação, a educação vive desta dialéctica permanente entre o novo e o velho, a novidade e a tradição, o passado e o presente (que é já futuro) .Em todas as sociedades democráticas há quem protesta da educação , pois só ai é possível (não é por acaso que os melhores alunos imigrantes em Portugal são oriundos dos países de Leste; os pais estavam habituados as regras bem definidas e as figuras de autoridade não eram postas em causa, havia disciplina e firmeza; esta mensagem foi passada aos filhos e também não é por acaso que no excelente documentário de Sergio Traufaut «Lisboetas» uma imigrante diz que tudo é bom, mas a escola é um problema) mas, parece-me não da educação em si mas da forma como é dada, e os que não a têm protestam por não a ter. Ora a educação foi e continua a ser um fenómeno de progesso social e cultural e fenómeno de ascensão pessoal na hierarquização da sociedade (já não é bem assim como todos sabemos) mas o mais importante, em minha opinião, deve ser a valorização pessoal de todos os membros que constituiem uma sociedade. Defendo uma sociedade utilitarista no sentido de as pessoas se sentirem úteis naquilo que fazem e queiram naturalmente aprender mais, e sejam valorizadas por isso mesmo, não no sentido clássico do termo «utilitarista» que algo só é bom se dai advir felicidade para o maior número de pessoas. (veja-se o caso recente do casamento dos homossexuais). Hoje em dia fala-se muito da tão aclamada «crise de valores» , ora eu não sou muito adepto desta designição, pela simples razão de achar que a sociedade viveu sempre em crise. É quase como se nos sentissemos todos numa época especial da humanidade, não fossem todas elas especiais e únicas. por si mesmas. Não vou fazer o discurso simplista da maioria da esquerda que acha que o mal do mundo é o neoliberalismo, mas também não me posso imiscuir que o estilo de vida individualista do mundo ocidental contribui em muito para a falência da educação como projecto social e de humanidade. Um exemplo, o valor da solidariedade foi substituido pelo da competitivade, há não muito tempo atrás a ambição não era uma coisa valorizada socialmente, hoje em dia quem não é ambicioso «já era» passe a expressão.
Quando se fala da educação é preciso termos isto em conta, não basta dizer que os professores não fazem nada, ganham muito, não se aplicam, etc, etc.. cada caso é um caso, mas da minha curta experiência pessoal há professores bons e maus como em qualquer profissão, e aprendo com os dois: um ensina-me como não hei-de de fazer e o outro ensina-me a como fazer. A escola não é um mundo à parte da sociedade, também ela vive daquilo que a sociedade quiser dela. E neste momento, ninguém sabe o que quer dela...